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Foto do escritorDébora Coraça-Huber

Deixa a vida me levar?

Atualizado: 7 de out. de 2021

Hoje de manhã vindo trabalhar começou a tocar uma música no rádio do carro, cantada em alemão.

Quis mudar a estação imediatamente. Não gosto de músicas cantadas em alemão. São raras as boas de se ouvir. Descobri com isso que não gosto da língua alemã. Mesmo falando-a diariamente e vivendo em um país que a tem como língua oficial. Eu nunca quis aprender alemão. Quando pensava em aprender outras línguas pensava logo no italiano, língua falada pelo meu avô. Ou até inglês. Mas alemão não. Eu nunca quis morar fora do Brasil. Estava bem, quietinha lá. Tinha tudo que queria. Pensava em viajar, passear, mas morar fora? Nunca. E cá estou eu, há quase 10 anos morando e trabalhando na Áustria.

Trabalhando? Sim. Sou bióloga. Trabalho com pesquisa científica. Mas pra falar a verdade eu nunca quis ser cientista. Veterinária talvez. Eu sempre gostei de bichos e de plantas. Mas nunca ninguém me falou que para ser bióloga eu teria que ficar escrevendo artigos entediantes para serem publicados em revistas que ninguém lê. Só para ganhar uns pontinhos no curriculum. E ainda apanhar para conseguir publicar. Eu nunca tive o sonho de fazer mestrado, doutorado e tal. Mas fiz. No embalo. Como forma de sobrevivência em um Brasil com poucas oportunidades de emprego. Pra ter um título. Para “ser alguém”.

Sabe aquela música do Zeca Pagodinho? Deixa a vida me levar...vida leeeva eu. É assim que acabei aqui. Sentada em um escritório de uma universidade austríaca, falando alemão, escrevendo artigos científicos entediantes. A vida me levou...e me trouxe aqui, sem que eu percebesse. Sonho de muita gente? Morar na Europa e tal, falar várias línguas. Claro que é legal. Claro que tem muita coisa boa envolvida. Mas as vezes tem tudo envolvido menos o coração.

Na vida a gente vai seguindo, vai deixando a vida nos levar. As necessidades financeiras e sociais nos fazem fazer trabalhos que não gostamos. Nos fazem conviver a vida inteira com pessoas que, se tivéssemos escolha, não conviveríamos nem por um minuto. Mesmo assim se segue em frente. Sonhando com aquilo que não fomos. Quem sabe um dia? Ainda vai me dar a louca? E este dia nunca chega. E a vida passa. A vida nos leva....e aí nao tem mais tempo de voltar atrás.

“Se a coisa não sai do jeito que eu quero / também não me desespero, o negócio é deixar rolar / e aos trancos e barrancos, lá vou eu! / e sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu!”

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